Coletas Especiais Em Triagem Neonatal – Crianças Prematuras ou Enfermas

Todos os recém-nascidos prematuros, de baixo peso, ou hospitalizados, devem ser testados inicialmente como recomendado para recém-nascidos a termo sadios, entre > 48h e 7 dias de vida1. Vide abaixo as recomendações:

  • Triagem para fenilcetonúria 

A triagem para fenilcetonúria (PKU) só será válida se o recém-nascido estiver recebendo leite materno, fórmula infantil ou outra forma de dieta enteral adequada (pelo menos 75 calorias/kg/dia) há 24h ou mais(234) caso contrário deve ser anotado no envelope de coleta “insuficiente ingesta protéica”, e uma nova amostra deverá ser obtida 24 -36h após o estabelecimento de ingesta protéica apropriada.

  • Triagem para hipotireoidismo congênito 

Em recém-nascidos de muito baixo peso ao nascer, especialmente os prematuros, deve-se repetir a triagem de hipotireoidismo congênito (dosagem de TSH) algumas semanas depois para detectar aqueles recém-nascidos cuja imaturidade do eixo hipotálamo-hipófise-tireóide possa mascarar o hipotireoidismo congênito primário.

Recomendações:

  • recém-nascidos com 1000-1500g – coleta de uma segunda amostra duas semanas após o nascimento;
  • recém-nascidos com menor 1000g – coleta de uma segunda amostra quatro semanas após o nascimento, independente da idade gestacional5;
  • recém-nascidos prematuros com mais de 1500g, mas com menos de 32 semanas de idade gestacional; – coleta de uma segunda amostra duas semanas após o nascimento6.

A prematuridade está associada a uma diminuição dos níveis de tiroxina (T4), não devida à deficiência de TBG e acompanhada de níveis normais de TSH7, assim sendo, quando a triagem do hipotireoidismo congênito é feita exclusivamente através da dosagem de T4, ocorre um aumento no número de resultados falsos positivos em prematuros. No laboratório DLE, sempre realizamos dosagem de TSH para valores de T4 abaixo de 6 mg/dl, para minimizar o número de falsos positivos.

  • Transfusão / nutrição parenteral total / terapia com corticosteróides ou dopamina 

As condutas em relação aos prematuros que necessitam de transfusão são as mesmas dos recém-nascidos a termo e podem ser vistas no Protocolo de Transfusão Sanguínea. Deve-se também colher uma amostra, mesmo que precoce (com menos de 48h), antes da instituição de nutrição parenteral total (NPT) ou da terapia com corticosteróides ou dopamina. Uma segunda amostra deverá ser obtida entre o 3º e o 7º dia de vida. Uma vez que mesmo pequenas quantidades de NPT podem invalidar os resultados da triagem, especialmente gerando resultados falsos positivos para PKU, recomenda-se para crianças que foram submetidas à NPT sem coleta prévia, a coleta de duas amostras: a primeira 3 ou mais dias após a mais recente NPT e a segunda 3 meses após a NPT final8, sempre indicando no envelope de coleta “NPT”.

Em relação às crianças que receberam dopamina ou corticosteróides, sem coleta prévia, deve-se colher uma primeira amostra no período regular, assinalando no envelope de coleta estas medidas terapêuticas, e uma segunda amostra deve ser colhida após o término da terapia6.

  • Triagem alterada 

Um teste de triagem alterado num recém-nascido prematuro com sinais clínicos compatíveis com a doença em questão, deve conduzir à imediata coleta para testes confirmatórios. No entanto, se a criança não apresentar sinais clínicos da doença, a amostra de reconvocação deve ser obtida com 4 semanas de idade, ou na alta hospitalar ou quando o recém-nascido atingir um peso de 2500g, sempre considerando o primeiro evento a ocorrer2.

Referências bibliográficas

1. Portaria GM/MS n.º 822 de 06 de junho de 2001.
2. GEORGIA NEWBORN SCREENING MANUAL FOR METABOLIC DISEASES & HEMOGLOBINOPATHIES – A PRACTITIONER’S GUIDE. Georgia Department of Human Resources, Division of Public Health, Family Health Branch. Disponível em: http://www.ph.dhr.state.ga.us/pdfs/familyhealth/ganewbornscreening.98.pdf. Acesso em: 21 mar. 2004.
3. TUERCK, J.M.; STEINER, R.D.; LAFRANCHI, S.L; THOMAS, G.; SKEELS, M.R.; HERMERATH, C.A.; RIEN, L. The Northwest Regional Newborn Screening Program – Practitioner’s Manual. Oregon Health & Science University and Oregon Department of Human Services. 6th Edition, 2002. Disponível em: http://www.ohd.hr.state.or.us/nbs/nbspract/manual.pdf. Acesso em: 21 mar. 2004.
4. NEWBORN SCREENING PRACTITIONER’S GUIDE. Texas Department of Health. Disponível em: http://www.tdh.state.tx.us/newborn/p_toc.htm. Acesso em: 22 mar. 2004.
5. GUIDELINES FOR DIAGNOSIS, MANAGEMENT & FOLLOW-UP OF CHILDREN WITH CONGENITAL PRIMARY HYPOTHYROIDISM. Australasian Paediatric Endocrine Group, 1998/99. Disponível em: http://www.racp.edu.au/apeg/cph.htm. Acesso em: 21 mar. 2004.
6. HARMS, E.; ROSCHER, A.; GRÜTERS, A.; HEINRICH, U.; GENZEL-BOROVICZÉNY, O.; ROSSI, R.; SCHULZE, A.; ZABRANSKY, S. Guidelines for organisation and performance of the newborn screening for congenital metabolic disorders and endocrine diseases in Germany. Update: June 2002. Disponível em: http://www.neoscreening.de/DGNS/Gesellschaft/DGNS Guidelines 2002.pdf. Acesso em: 21 mar. 2004.
7. OGILVY-STUART, A.L. Neonatal thyroid disorders Arch. Dis. Child. Fetal Neonatal Ed. 2002; 87:F165-F171.
8. NEWBORN SCREENING IN NEW YORK STATE – A GUIDE FOR HEALTH PROFESSIONALS. New York State Department of Health. May 2003. Disponível em: http://www.wadsworth.org/newborn/phyguidelines.pdf. Acesso em: 21 mar. 2004.